O Brasil já foi considerado a Pátria de chuteiras. Entretanto, os últimos acontecimentos relacionados à CBF evidenciam contradições e interesses que demonstram descompromisso e falta de ética de alguns gestores púbicos. Em um momento extremamente complicado, no qual muitos choram a perda de seus entes queridos alguns insistem em desconsiderar os riscos e apoiam a realização de um evento já recusado por outros países sul-americanos. Mas quais as motivações reais para realizar um evento em que os próprios jogadores e o técnico da seleção brasileira não apoiam? Seria por capricho pessoal de alguma liderança e vontade de mostrar poder? Promover um evento para distrair uma população que sofre com uma paixão antiga? Realizar um evento para impulsionar a economia do país, mesmo com riscos altíssimos? Apoiar interesses externos que contam com a realização do evento?
Não temos respostas para esses questionamentos e talvez a pergunta essencial não tenha sido realizada. Entretanto, fica evidente o conflito de interesses e o descompromisso de alguns com o povo brasileiro. Embora muitos prefiram seguir o ditado popular segundo o qual, futebol, assim como política e religião não se discute, a realidade confronta o senso comum e evidencia o uso político de práticas aparentemente neutras.
Mas o que fazer diante de uma tal realidade? Se realmente nos importamos com a vida das pessoas, e é preciso mencionar aqui especialmente os jogadores e todos os que precisam participar diretamente de um evento esportivo, apoiar a realização da Copa América em um país que encontra sérias dificuldades para lidar com a pandemia é no mínimo um contrassenso.
Ainda que quisesse reconhecer boas intenções daqueles que apoiam a realização de tal evento no Brasil, a realidade apresentada parece não deixar dúvida que se trata apenas de interesses políticos e econômicos, infelizmente colocados acima do cuidado com a vida de um povo cuja situação de fragilidade no campo educacional torna-o ainda mais vulnerável à manipulação com consequências alarmantes.
Copa América na Pátria de Chuteiras?
Luís Fernando Lopes é Doutor em Educação e professor da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional UNINTER